quarta-feira, 22 de abril de 2009

A grande investigação do espiritismo

Poderão os vivos comunicar com os mortos?
A controvérsia dura há mais de cem anos




A moda do espiritismo começou a assolar a América e a Europa durante a década de 1850, chamando à atenção de investigadores, cientistas, artistas e outros pensadores da época. As dotadas irmãs Fox, da América, consideravam-se simples médiuns que permitiam a transmissão de mensagens à semelhança de uma central telefónica. Os médiuns experientes conseguiam obter fama e levar uma vida desafogada – competindo, inevitavelmente, entre eles para produzir provas cada vez mais convincentes da presença de espíritos. De mensagens laboriosamente transmitidas através de pancadas, passou-se para a comunicação oral directa: um médium em transe poderia ser possuído por um espírito controle «do outro lado», que falaria através do médium.

Os cépticos afirmavam que as mensagens faladas eram fáceis de falsificar, visto que mesmo pormenores pessoais poderiam ser revelados ao médium por acaso ou de forma premeditada. Eram necessárias provas mais tangíveis de comunicações vindas do além. Na década de 1860, as sessões incluíam mesas que se erguiam do chão, mensagens escritas em placas dentro de caixas seladas e objectos que apareciam sem se saber de onde. Contudo, para provar que os espíritos eram os responsáveis por tais fenómenos, era essencial que eles se mostrassem. Assim, o espiritismo atingiu o seu auge através da materialização.

O médium exsudava uma substância branca e fluida, chamada ectoplasma, através de orifícios do corpo, e os espíritos utilizavam-na para reproduzir aquilo que eram em vida. A aparição de ectoplasma deveria ter sido o critério ideal, mas continuava a haver dúvidas. Em primeiro lugar, enquanto produzia ectoplasma o médium era sensível à luz, pelo que as sessões decorriam sempre à meia-luz. Em segundo lugar, o ectoplasma era sensível ao toque, pelo que os observadores só raramente eram autorizados a tocar-lhe. Em terceiro lugar, o médium precisava de isolamento, pelo que, em geral, ficava por detrás de um biombo ou dentro de um gabinete. Finalmente, quando o espírito materializado emergia, trajava sempre longas vestes brancas e drapeadas e um turbante volumoso, tornando difícil a sua identificação.

O teste dos médiuns: A médium inglesa Florence Cook convenceu o físico William Crookes de que os seus poderes eram genuínos. As suas sessões eram por vezes visitadas por Marie, o espírito de uma menina que morrera aos 12 anos. Um participante numa das sessões agarrou a adolescente materializada, enquanto outro puxava a cortina do gabinete onde a médium deveria estar sentada em transe. Porém, a médium não estava lá – Florence Cook e Marie eram uma e a mesma pessoa.

Infelizmente, um médium após outro foi sendo apanhado a enganar o público. Apesar de tudo, tais reveses pouco contribuíram para demover os crentes. Os enganos eram desculpados com base no facto de que, embora os médiuns fossem habitualmente honestos, recorriam por vezes a embustes a fim de não deixar ninguém desapontado.

Com tantas fraudes já provadas, poucos cientistas se davam ao trabalho de investigar o espiritismo. Por outro lado, também se descobria que o espiritismo produzia fenómenos desconcertantes. A médium Eva Carrière, cujo nome real era Marthe Béraud, foi fotografada mais de 200 vezes enquanto produzia ectoplasma. No início do século XX, o engenheiro W. J. Crawford testou Kathleen Goligher, de Belfast, Irlanda do Norte. Fotografou-a com uma boa luz enquanto do seu corpo fluia ectoplasma que formava «braços» rígidos capazes de levantar uma mesa. Franek Kluski, polaco, materializava mãos de espíritos e mergulhava-as em taças de parafina líquida, deixando-as endurecer para fazer moldes.

Porém, continua a não haver provas directas de que tais fenómenos tenham sido originados por espíritos. A experiência de Philip, realizada em Toronto em 1973, revelou que era possível criar um espírito artificial através do poder da vontade colectiva. Além disso, Eileen Garrett, médium do século XX, admitiu ter dúvidas sobre se o seu controle árabe «Uvani» existia de forma independente ou era uma criação do seu inconsciente. Embora o espiritismo continue a ter seguidores em todo o Mundo, não demonstrou ser a forma de contactar com os mortos que os espíritas da década de 1850 previam.


John Dee e Edward Kelley


Poucos ocultistas da época da rainha Isabel I são tão «esquivos» como Edward Kelley, o médium que servia o famoso Dr. John Dee em muitos dos seus esquemas de magia. Nas suas tentativas de contactarem espíritos superiores, ou anjos, utilizavam um sistema esboçado pela primeira vez pelo alquimista Cornelius Agrippa na sua obra clássica Da Filosofia Oculta.

Kelley terá nascido em Worcester, Inglaterra, a 1 de Agosto de 1555, e por um breve período terá frequentado Oxford sob o pseudónimo de Edward Talbot. A razão pela qual terá utilizado um pseudónimo é desconhecida. Diz-se que ele usava um solidéu negro porque tinha perdido as duas orelhas como castigo por falsificações. Quando conheceu Dee, a 10 de Março de 1582, já tinha reputação de médium e necromante – invocador dos espíritos dos mortos.

Kelley fixava uma bola de cristal e chamava os espíritos numa língua complexa e secreta, o enoquiano. Dizia ele que conseguia ver e ouvir os espíritos, e agia como intermediário de John Dee, que lhes fazia perguntas. Os simpatizantes de Dee afirmam que este era muito enganado pelo fraudulento Kelley. Há muitas informações de carácter histórico que revelam a existência de uma aliança entre ambos que incluía a sugestão, feita por Kelley, supostamente encorajado por um espírito que o guiava, Madimi, de que os dois homens trocassem entre si as suas mulheres. Como em tantos ou tros factos referentes a Kelley e Dee, não se sabe se essa troca terá alguma vez ocorrido.

O que se sabe realmente é que Dee e Kelley viajaram por toda a Europa graças à sua reputação de ocultistas e alquimistas. Contudo, era inevitável a sua separação. Dee optou por regressar a Inglaterra, mas Kelley continuou as suas viagens, prometendo ouro e o elixir da vida eterna, que teria sido descoberto em Inglaterra, na Abadia de Glastonbury, através de espíritos superiores.

O semilouco Rodolfo II de Praga, Boémia, começou por armar Kelley cavaleiro pelos seus esforços no campo da alquimia e depois aprisionou-o pela sua falta de produção. Em 1593, Kelley morreu dos ferimentos sofridos numa queda quando tentava escapar do torreão do castelo.

Os talentos das irmãs Fox


As irmãs Fox são conhecidas como as primeiras médiuns que conseguiram canalizar mensagens entre este mundo e o além. Contudo, o papel importante que as jovens desempenharam no movimento espírita começou por brincadeira.

No início da adolescência de Margaretta e Kate Fox, a família vivia numa casa que parecia estar assombrada, pois ouviam-se pancadas misteriosas nas paredes e portas. Na noite de 31 de Março de 1848, as duas jovens começaram a responder descaradamente aos sons espectrais. Dirigindo-se ao espírito como o Diabo, Kate chamou: «Sr. Casco Fendido, fazei como eu faço», e bateu várias vezes as palmas. O «espírito» respondeu imediatamente com o mesmo número de pancadas. Margaretta também começou a bater palmas: «Fazei como eu faço, contando um, dois, três, quatro.» De novo as pancadas responderam de forma correcta. O jogo evoluiu, transformando-se em perguntas complicadas usando um código alfabético. O espírito das pancadas identificou-se com um vendedor ambulante que tinha sido assassinado naquela casa e enterrado na cave.

Muitas pessoas já tinham afirmado contactar os mortos, mas, aparentemcnte, as irmãs Fox estabeleceram pela primeira vez uma comunicação directa nos dois sentidos entre os vivos e os mortos. Rapidamente se tornaram famosas.

Em Fevereiro de 1851, as duas irmãs Fox foram examinadas por três professores da Universidade de Buffalo, Nova Iorque, que disseram que as pancadas eram feitas pelas articulações dos joelhos das raparigas. Além disso, em Abril de 1851, a Sr.ª Norman Culver afirmou que Kate lhe revelara como se fazia o truque, e concretizou a sua afirmação produzindo pancadas com som semelhante. Kate e Margaretta negaram as acusações e submeteram-se alegremente a mais exames. Não foram apanhadas a fazer batota uma única vez, embora nesse momento os investigadores já soubessem como se podiam produzir as pancadas. As duas médiuns Fox continuaram a praticar a sua habilidade.

Em 1888, as irmãs confessaram publicamente que tinham forjado tudo, mas um ano mais tarde retiraram essa declaração dizendo que tinham falado sob pressão. O explorador Elisha Kent Kane, marido de Margaretta, sempre desconfiara das acções da mulher, e antes de morrer, em 1857, tentara levá-la a abandonar o seu «contínuo engano e hipocrisia».

Em retrospectiva, parece provável que as irmãs tenham agido fraudulentamente pelo menos durante algum tempo. A verdadeira natureza do seu dom, como o próprio fenómeno do espiritismo, ainda é um mistério.
Fotografia de espíritos


Desde os primórdios da história da fotografia que se afirma que a imagem de espíritos «extras», invisíveis quando se tira a fotografia, podia ser captada na película fotográfica. Este fenómeno parecia requerer a presença de um médium quando se tiravam as fotografias ou que o próprio fotógrafo fosse mediúnico.

A fotografia de espíritos, ou mediúnica, nunca foi realmente considerada séria, e só raramente ocorreu desde que as câmaras que utilizavam chapas fotográficas se tornaram obsoletas. De um modo geral, investigadores científicos de fenómenos psíquicos não queriam envolver-se num campo tão propenso a fraudes ou a acusações de fraude, sendo por isso difícil calcular o valor das muitas imagens que chegaram até nós.

Atribui-se a William Mumler, de Boston, EUA, a primeira fotografia de um espírito, que apareceu num auto-retrato tirado em 1861. Também foi responsável pelo mais famoso do género, em que aparece Mary Todd, viúva de Abraham Lincoln, com o espectro deste de pé atrás dela, com as mãos pousadas nos seus ombros. Nunca se conseguiu provar que Mumler tivesse recorrido a fraudes, e quando ele foi acusado de vigarice passados alguns anos, o caso foi votado ao esquecimento.

Edward Wyllie montou negócio como fotógrafo em Pasadena, Califórnia, EUA, em 1886. Médium desde a infância, aproveitou-se dos seus dotes psíquicos produzindo «extras» em cerca de 60% dos casos. Nas suas fotografias, apareciam muitas vezes mais de um rosto ou figuras, por vezes acompanhados de uma mensagem. Muitas pessoas mostravam o seu cepticismo, mas quando uma sociedade de investigação de fenómenos psíquicos lhe pediu para fotografar alguém que ignorasse completamente o espiritismo, Wyllie escolheu Charlie, um chinês, dono da lavandaria local. Nas fotografias de Charlie, apareceu outra figura – um retrato minúsculo do seu filho, que ele não via há três anos, e uma mensagem em chinês. Charlie não sabia que o filho já tinha morrido.

Fotografias tiradas pelo francês Edouard Buguet incluíam imagens de pessoas que tinham morrido antes da invenção da fotografia. Embora Buguet fosse condenado por fraude em 1875, o seu julgamento foi considerado injusto, e as pessoas continuaram a acreditar nele e nas suas fotografias.

Um dos últimos fotógrafos de espíritos, William Hope, de Inglaterra, foi alvo de controvérsia em 1921, quando o caçador de fantasmas Harry Price afirmou ter descoberto um caso de fraude deliberada. Voaram acusações, e continua sem se saber quem tinha recorrido a embustes e até que ponto. Hope teve os seus apoiantes, e uma fotografia da «alma» do poeta americano Walt Whitman é muito semelhante ao seu retrato real.

Escrita na ardósia


A psicografia, ou escrita na ardósia, era uma prática muito popular dos médiuns do século XIX, e o seu praticante mais destacado foi o «Doutor» Henry Slade, de Nova Iorque. No decorrer de uma sessão típica, com mais ou menos iluminação, Slade segurava numa extremidade da ardósia por baixo da mesa, enquanto alguém sentado à sua frente segurava na outra e na mão livre de Slade. Ouviam-se então raspadelas, e quando a ardósia era finalmente apresentada à assistência, estava coberta por escrita ou desenhos de «espíritos».

Passados 15 anos, Slade estava tão à vontade na escrita na ardósia que foi escolhido como objecto de um estudo a realizar pela Universidade Imperial de S. Petersburgo. Seria apadrinhado por Madame Blavatsky e Henry Steel Olcott, co-fundadores da Sociedade Teosófica. A caminho da Rússia, em Julho de 1876, Slade parou em Inglaterra para realizar uma série de demonstrações públicas. Durante uma das sessões, E. Ray Lankester, céptico professor de Zoologia, agarrou na ardósia antes de esta ser colocada por baixo da mesa, descobrindo que ela já estava toda escrita!

Slade foi acusado de solicitar dinheiro sob falsas alegações. Deixou a Inglaterra desacreditado, situação que se manteve através do canal da Mancha até a Europa continental.

O mágico americano Harry Houdini descobriu mais tarde várias formas de falsificar a escrita na ardósia, desde um pequeno pedaço de lápis para ardósia atado a um anel até ardósias preparadas fornecidas por assistentes ou escondidas em painéis falsos sob a mesa. A certa altura, chegou mesmo a ser possível encomendar ardósias falsificadas através de um catálogo, «Cabriolas com Fantasmas», de uma empresa de Chicago.

Mais tarde, Slade viria a sucumbir, vítima de «espíritos» de outro tipo. Destruído pelo álcool, morreu em 1905, louco e na miséria, internado num sanatório.

Uma médium notável


O primeiro indício das capacidades da médium americana Leonora Piper surgiu quando ela tinha 8 anos. Estava a brincar no seu jardim de Nashua, New Hampshire, em 1867, quando sentiu um sopro no ouvido direito e as palavras: «A tia Sara não está morta, continua convosco.» Leonora contou o sucedido à mãe, que anotou o dia e a hora. Passados dias, souberam que Sara tinha morrido naquele momento.

Os transes de Leonora começaram em 1884, depois de o sogro a ter levado a um vidente cego para obter uma cura psíquica. Quando ela começou a realizar sessões públicas, um dos participantes foi o psicólogo William James. Ela forneceu informações pessoais tão detalhadas que, embora inicialmente céptico, ele concluiu: «Ela tem um poder até hoje inexplicado.»

O interesse de James levou ao envolvimento da Sociedade Americana para a Investigação de Fenómenos Psíquicos (SAIFP). Tal como James, Richard Hodgson, então secretário da SAIFP, de início considerou Leonora uma embusteira. Contudo, quando na primeira sessão a que assistiu, em 1887, ela surpreendeu-o com pormenores da vida da sua família na Austrália.

Sendo uma médium mais mental do que física, pois comunicava através da visão interior, e não de fenómenos como levitação de objectos, Leonora não era revistada. Os participantes eram examinados, as suas identidades não lhe eram reveladas e eram contratados investigadores para descobrir se ela recebia informações acerca dos participantes antes de os ver. A médium continuava a fazer afirmações precisas acerca de pessoas de quem nunca ouvira falar nem encontrara anteriormente.

Leonora tinha sempre pelo menos um «controle» que lhe fornecia as informações durante a sessão. Primeiro, foi o Dr. Phinuit, suposto médico francês morto havia muito tempo, embora com poucos conhecimentos de medicina. Mais tarde, foi substituído por um certo George Pelham, que Hodgson conhecera, e depois da morte deste, em 1905, pelo próprio Hodgson.

Leonora foi convidada a visitar a Inglaterra, onde, entre Novembro de 1889 e Fevereiro de 1890, realizou 83 sessões. O investigador Oliver Lodge concluiu que em mais de 40 casos ela fornecia informações das quais o participante não tinha consciência, mas que, após inquérito, se revelavam correctas. Mais tarde, com outros médiuns, participou numa experiência a nível mundial conduzida pela Sociedade de Investigação de Fenómenos Psíquicos de Londres, na tentativa de obter provas da sobrevivência depois da morte.

Mas Leonora também se enganava, como quando disse que um homem do circo estava vivo muito depois de ele ter morrido assassinado. Phinuit também era acusado de tentar obter respostas dos participantes para tornar as mensagens mais credíveis. Apesar de tudo, a sua reputação sobreviveu às críticas, e a sua capacidade como médium continuou a desafiar toda a explicação convencional. Morreu em 1950 com 91 anos, uma das médiuns mentais mais notáveis jamais investigadas.

O poder da mente


Em 1888, o Dr. Ercole Chiaia, de Nápoles, Itália, descreveu uma médium extraordinária, que «atrai a si as peças de mobiliário que a rodeiam e as levanta no ar ... toca instrumentos musicais ... como se os tocasse com as mãos». Esta médium, a italiana Eusapia Palladino, nascida em 1854, começou a revelar dons psíquicos na sua juventude e em breve se tornou profissional. O Dr. Chiaia mencionou-a a um psiquiatra eminente, o Prof. Lombroso, que ficou muito impressionado. Uma das suas capacidades mais intrigantes era a de fazer aparecer marcas de dedos numa taça de massa de vidraceiro à distância. Em 1892, foi testada em 17 sessões realizadas em Milão por investigadores, incluindo o professor francês Charles Richet. Também ele ficou convencido dos seus poderes depois de uma mesa pesada se erguer mais de 1 m ao ar quando ela lhe tocou.

Quando em 1895 a Sociedade para a Investigação de Fenómenos Psíquicos a levou a Cambridge, Inglaterra, Eusapia foi deliberadamente autorizada a recorrer a truques fraudulentos, o que ela fez de forma evidente. Concluiram então que ela era uma charlatã, mas Richet e outros investigadores insistiram que os incidentes artificiosos se deviam ao seu temperamento travesso ou a condições de stress. Ao contrário de muitos médiuns, Eusapia raramente se ocultava durante as sessões e trabalhava muitas vezes com luz suficiente para ser claramente visível. Fazia que peças de mobiliário se movessem – até de forma agressiva – em direcção aos assistentes, e as suas materializações de mãos separadas de corpos pareciam sinistramente reais. Quando morreu, em 1918, era considerada por muitos a maior médium da época.

A psicocinética – capacidade de mover objectos sem qualquer contacto físico – era um enigma para os investigadores dos fenómenos paranormais ainda antes das controversas actuações de Eusapia. Investigações anteriores tentavam responder à questão de se tais fenómenos provinham da acção de espíritos ou dos poderes da mente humana. Em 1854, o conde Agenor de Gasparin referiu experiências de levitação de mesas bem-sucedidas na Suíça, em que uma dúzia de pessoas sentadas à volta da mesa conseguiam fazê-la mover sem sequer lhe tocar. Julgava ele que isto se devia a alguma força invisível gerada pelos próprios participantes. Um ano antes, nos EUA, o Prof. Hare – que era um céptico – tinha sido incapaz de encontrar uma explicação científica para a levitação de mesas, tendo por isso deduzido que havia espíritos a actuarem através dos participantes humanos.

A psicocinética pode ocorrer com ou sem esforço deliberado. Everard Feilding, da Sociedade para a Investigação de Fenómenos Psíquicos, pôs à prova a jovem médium polaca Stanislawa Tomczyk entre 1912 e 1914. Enquanto estava consciente, parecia produzir espontaneamente efeitos psicocinéticos, para sua própria surpresa. Sob a acção da hipnose, conseguia controlar a sua capacidade, fazendo colheres e caixas de fósforos moverem-se sem lhes tocar.

Alguns casos de suposta psicocinética podem ser explicados por recurso a artimanhas, mas outros são desconcertantes. Depois da I Guerra Mundial, os irmãos austríacos Willy e Rudi Schneider realizaram várias materializações – podiam fazer um lenço flutuar erguendo-se do chão, ao mesmo tempo que mudava de forma como se estivesse uma mão dentro dele, notando-se perfeitamente as articulações. Na presença dos dois irmãos, o escritor alemão Thomas Mann observou um sino pousado no chão a tocar vigorosamente sem qualquer contacto humano. Concluiu que não era possível que tivesse havido qualquer truque mecãnico nem prestidigitação.

O parapsicólogo americano J. B. Rhine começou a testar a psicocinética em laboratório em 1934 investigando se era possível influenciar mentalmente a forma pela qual os dados caíam. Outras experiências implicavam a determinação mental do lado sobre o qual uma moeda atirada ao ar iria cair. Os resultados estatísticos pareciam confirmar que a psicocinética existia realmente, e esta tornou-se desde então na área de crescimento mais rápido da investigação paranormal.

Um psicólogo britânico, Kenneth Batcheldor, depois de 20 anos a estudar casos de suposta levitação, publicou vários relatórios em 1966 em que concluiu que a psicocinética é possível quando os sujeitos mantêm uma estrutura mental positivamente «crente». Contudo, a forma pela qual a mente atinge os efeitos psicocinéticos ainda está por descobrir.

Da Índia a Marte


Catherine Elise Muller estava convencida de que tinha nascido para qualquer coisa melhor do que o seu aborrecido trabalho de escritório em Genebra, Suíça. Em criança, evadia-se da vida quotidiana através de sonhos ou alucinações. Finalmente, durante a década de 1890 deixou-se arrastar para o espiritismo, com as suas promessas de contacto com um mundo mais vasto e mais excitante.

Nas sessões, os seus primeiros controles foram o poeta francês Victor Hugo e depois o aventureiro italiano Cagliostro. Duas das suas vidas anteriores, dizia, tinham sido como princesa sikh e como Maria Antonieta. Certo dia, um outro espírita, o Prof. Lemaître, falou das especulações de cientistas segundo as quais os seres humanos estabeleceriam contacto com outros planetas. Passado pouco tempo, Catherine exclamou, em estado de transe: «Lemaître, aqui está aquilo que queríeis saber!»

Nos anos seguintes, Catherine produziu uma enorme quantidade de informações sobre a vida em Marte. Os pormenores da paisagem e habitantes tinham por base aquilo que ela afirmava ver durante as suas visitas ao planeta. Proeza culminante era a sua capacidade de falar e escrever a língua marciana, utilizando um vocabulário sofisticado.

O psicólogo suíço Flournoy investigou o assunto. Concluiu que uma imaginação altamente desenvolvida e fortes memórias subconscientes eram responsáveis pelas histórias relacionadas com Marte, embora ele também detectasse um pouco de telecinética e telepatia. Os especialistas de linguística descobriram que as palavras marcianas derivavam sobretudo de francês distorcido. Em 1899, as descobertas de Flournoy foram publicadas na obra Da Índia ao Planeta Marte, onde Catherine aparece como «Hélène Smith». O livro transformou a médium em objecto de enorme interesse entre os investigadores.

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