terça-feira, 17 de março de 2009

Pessoas que fizeram Portugal, as suas Histórias


Afonso Henriques, D. (1109-1185) - Primeiro rei de Portugal e por isso o fundador da nacionalidade. Filho de Henrique de Borgonha e de Tereza, bastarda de Afonso VI de Leão, nasce em Coimbra e passa a infância e a adolescência nas terras do Condado Portucalense. Armado cavaleiro aos treze anos na Catedral de Zamora, a sua nobre educação em aspectos políticos torna-o num elemento congregador e legitimador de uma rebelião contra o governo de sua mãe, adepta de uma estratégia autonomista, envolvendo a aliança com nobres galegos, os quais, progressivamente, ganharam no Condado um peso político considerado ameaçador. Após a Batalha de São Mamede, Afonso Henriques inicia o governo do Condado com o apoio imprescindível do partido portucalense. Conseguiu a independência defrontando dois poderosos adversários - o Reino de Leão e de Castela e os Mouros. O seu reinado foi o mais longo da Monarquia portuguesa.

Afonso II, D. (1185-1223) - Nascido em Coimbra, o primeiro filho varão de Sancho I e Dulce de Aragão casa em 1208 com Urraca de Castela e começa a reinar, por morte do pai, em 1211. Embora de carácter pouco belicoso, prosseguiu a obra da Reconquista, mas foi sobretudo no campo administrativo que mais se distinguiu, fortalecendo o poder real.

Afonso III, D. (1210-1279) - O segundo filho de D. Afonso II e Urraca de Castela abandonou o Reino durante o governo de seu irmão, D. Sancho II, para procurar posição e fortuna nas cortes de França ou Borgonha, a que se encontrava ligado por laços familiares. Conquistou definitivamente o Algarve, promoveu o desenvolvimento económico do País e soube impor-se energicamente aos abusos dos privilegiados.

Afonso IV, D. (1291-1357) - Único varão de D. Dinis e D. Isabel de Aragão, casa em 1309 com Beatriz de Castela. Subiu ao trono em 1325 e faleceu em 1357. Auxiliou eficazmente Afonso XI de Castela na luta contra os Mouros e teve notável papel na Batalha do Salado. Foi no seu reinado que se efectuaram as primeiras expedições portuguesas às Canárias. Procurou remediar os prejuízos da peste negra e promulgou outras medidas do maior alcance.

Afonso V, D. (1432-1481) - Nasceu em Sintra, no dia 15 de Janeiro de 1432, filho do rei D. Duarte e de D. Leonor de Aragão. Subiu ao trono em 1438 e faleceu em 1481. Grande impulsionador da conquista do Norte de África e das descobertas marítimas, nem por isso deixou de ser um forte protector das letras e das artes, como o prova a valiosa biblioteca que possuiu. Acalentou o sonho, desfeito na batalha do Toro, de unir os Tronos de Portugal, Leão e Castela, pelo seu casamento com a Beltraneja.

Almeida, Duarte de - Heróico combatente português na Batalha de Toro, em 1476. Foi no decurso desse prélio que o alferes Duarte de Almeida, empunhando a bandeira real, se bateu bravamente para a defender dos castelhanos, segurando-a ainda depois de lhe terem decepado as mãos e até cair prostrado pelos ferimentos. O feito de Duarte foi registado por Rui de Pina numa das suas crónicas e celebrado por Damião Góis na Crónica do Príncipe D. João, onde refere que «na mesma pobreza viveu o alferes Duarte de Almeida, ao qual se não fez mercê nenhuma em satisfação de quantas feridas recebeu». O sacrifício do Decepado, como a leviana aventura política do soberano que servia, teve assim uma triste e desiludida conclusão.

Avranches, Conde de - D. Álvaro Vaz de Almada, filho de João Vaz de Almada, senhor do morgado de Almada. Participou na Tomada de Ceuta e foi armado cavaleiro pelo Infante D. Pedro. Acompanhou este príncipe na sua digressão pela Europa e participou em diversas expedições a Ceuta. Como capitão-mor da armada, esteve na malograda ida a Tânger de 1437. Partidário de D. Pedro nas lutas pela regência, foi eleito pelo povo de Lisboa alferes da cidade e recebeu o título de conde pelas mãos de Henrique VI de Inglaterra. Exemplo de fidelidade a D. Pedro, acompanhou-o até Alfarrobeira, onde veio a falecer no campo de batalha.

Bragança, Duque de - D. Afonso I, conde de Barcelos, filho ilegítimo de D. João I e de Inês Pires Esteves, foi o fundador da casa de Bragança. O senhorio e o ducado de Bragança solicitou-os ele ao regente D. Pedro, por ocasião de uma breve reconciliação entre ambos, que lhos concedeu no ano de 1442.

Correia, Paio Peres - Filho de Pêro Pais Correia e de Dórdia Peres de Aguiar, pertence a uma família nobiliárquica de segunda categoria, os Correia, cujo o núcleo patrimonial se situava nas terras de Basto. Tal como outros representantes de famílias da sua região de origem, segue carreira nas ordem religiosas militares. Ingressando na ordem de Sant'Iago da Espada, fundada em 1170 no reino de Leão e que tinha uma secção portuguesa governada por um comendador-mor submetido ao mestre de Uclés em Espanha, numa altura em que já se fragmentava o império Almóadas, pôde então chefiar, na qualidade de comendador-mor de Alcácer, a sede dos Espatários no Reino, uma rápida e vitoriosa campanha militar no Alentejo e Algarve, aproveitando o ímpeto reconquistador cristão que, em Castela, possibilitara a tomada entre 1233 e 1245, de importantes praças da Andaluzia.

Coutinho, Gonçalo Vasques - Alcaide-mor de Trancoso que viveu nos séculos XIV e XV. Na crise de 1385 - 1385 durante as lutas entre a regente D. Leonor Teles e o Mestre de Avis, tomou o partido deste, não aceitando submeter-se a Castela. Era feroz inimigo de Martim Vasques da Cunha, que estava em Linhares e não oferecera resistência ao exército castelhano que em 1384 invadira Portugal pelas Beiras. O alcaide-mor de Ferreira, compreendendo o perigo que ameaçava o País, conseguiu que os inimigos fizessem as pazes, e, todos juntos, derrotaram os Castelhanos na Batalha do Trancoso.

Duarte, D. (Viseu, 31/10/1391 - Tomar, 10/9/1438) - Décimo primeiro Rei de Portugal, filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Nasceu em Viseu, em 1391, e reinou de 1433 a 1438. Homem de sólida preparação intelectual, prestou grandes serviços à cultura, protegendo as letras e enriquecendo-as com as próprias obras de sua autoria (como o celebre Leal Conselheiro), reveladoras de profunda erudição e rica inteligência. Foi no reinado de D. Duarte que se obtiveram os primeiros resultados práticos dos esforços de descobrimento ao longo da costa de África.

Eanes de Zurara, Gomes - Nascido entre 1410 e 1420, o cronista Zurara substituiu em 1454 Fernão Lopes no cargo de guarda-mor da Torre do Tombo, tendo conservado esse cargo até à sua morte ocorrida entre Dezembro 1473 e Abril de 1474. Filho do cónego das Sés de Coimbra e Évora, Johanne Eannes de Zurara, foi protegido por D. Afonso V e pelo infante D. Henrique, que lhe atribuiu duas comendas da Ordem de Cristo. Só se conhecem obras suas a partir de 1451, ano em que concluiu a Crónica da Tomada de Ceuta. Ao contrário de Fernão Lopes, Zurara ignora a dinâmica da sociedade, tendo dela uma concepção extremamente individualista. Todas as suas obras são elogios pomposos às grandes personalidades, príncipes ou cavaleiros. As acções e sentimentos dos povos miúdos raramente estão presentes nas suas crónicas.

Fernandes, Rui - Filho de Fernando Álvares, doutorou-se em Leis, vindo a desempenhar as funções de membro de desembargo régio. Embaixador ao serviço de D. João I, participou em Aragão na negociação dos capítulos matrimoniais entre D. Duarte e D. Leonor. De novo embaixador, desta feita em Castela, celebrou com este reino o Tratado da Paz Perpétua, negociado em 1431. Revelou-se desde cedo inimigo do infante D. Pedro. Nas lutas que se travaram entre D. Pedro e D. Leonor, encontra-se ao lado desta última. Foi beneficiado após Alfarrobeira, onde aliás combateu ao lado do rei, tendo seus filhos João Rodrigues e Álvares Fernandes sido contemplados pela potestade régia com a concessão de bolsas de estudos.

Fernando I, D. (1345-1383) - Nono Rei de Portugal, filho de D. Pedro I e D. Constança. Nasceu em Lisboa, em 1345, e reinou dezasseis anos. Teve três guerras infelizes com Castela (1369, 1373 e 1381), e o malogro militar dessas campanhas, na opinião de certos historiadores, contribuiu para atrair o descrédito. Negociou o seu casamento com duas princesas espanholas e acabou por casar com a dama de honor de uma delas, a formosa mulher de João Lourenço da Cunha (Leonor Teles), obtendo para o efeito a anulação do casamento que esta contraíra anteriormente. De D. Fernando disse Alfredo Pimenta: «(...) com os seus defeitos, foi um grande rei, não desmerecendo da dinastia a que pertenceu e que terminou com ele. Tão grande que, apesar dos seus infortúnios nas guerras, deixou o pais em condições de, no reinado seguinte, iniciar a grande maravilha dos Descobrimentos. Leis proteccionistas da agricultura, leis do desenvolvimento da marinha, reformas do exército, providências felizes sobre a Universidade de Coimbra, a Aliança Inglesa - eis o balanço geral da obra positiva de D. Fernando».

Fernando, Infante D. (Santarém, 1402-Fez, 1443) - Filho do D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Depois do desastre de Tânger, ficou prisioneiro dos Mouros como refém e morreu ao fim de onze anos de cativeiro (1448). A resignação com que D. Fernando sofreu os maus tratos aplicados pelos Mouros fez com que a tradição portuguesa lhe aplicasse a designação de Infante Santo.

Gelmírez, Diego (c. 1070-1140) - Arcebispo de Compostela. foi educado nesta catedral, de que veio a ser administrador (1093), vigário (1095), bispo (1100) e arcebispo (1120).Neste ano recebeu também o título de legado apostólico mas dioceses de Braga e Mérida. foi um dos maiores prelados compostelanos: reformou o cabido, concluiu a grandiosa catedral, começada em 1077 pelo seu antecessor, engrandeceu a sua diocese com bens e privilégios e conseguiu que ficasse isenta de Braga e fosse elevada a metrópole pela transferência para ela das sufragâneas de Mérida. Exerceu grande influência política, estando ora a favor, ora contra D. Urraca, D. Tereza e D. Afonso VII. Com o auxilio de Genoveses, organizou a marinha para defesa dos bens da sua igreja, sendo considerado fundador da marinha de guerra espanhola.

Gilberto, Bispo D. - Sacerdote inglês, supostamente falecido em Lisboa em 27/4/1166, que se evidenciou na conquista de Lisboa aos Mouros, realizada por D. Afonso Henriques, e foi o primeiro bispo da cidade, cargo que exerceu de 1147 a 1166. Participou na 2ª cruzada (1147-1149), que se dirigia aos lugares santos e que teve no ataque a Lisboa uma das suas poucas vitórias.

Gonçalves, Vasco (n. 3/5/1921) - Primeiro-ministro do II, III, IV e V Governo Provisório (Julho de 1974 a Setembro de 1975) do regime implantado pela revolução de 25 de Abril de 1974.

Henrique, Conde D. - Conde da Borgonha e depois titular do Condado Portucalense, pai de Afonso Henriques. Casou com D. Tereza de Leão. Nasceu em Dijon por volta de 1057 e morreu em Astorga, talvez em 1112. Pugnou bastante pela autonomia do seu governo. Ao intervir nas contendas dos príncipes hispânicos, de quem era naturalmente aliado, ganhava sempre alguma coisa em favor do Condado, preparando assim a independência que se avizinhava.

Henrique, Infante D. - Filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, nasceu no Porto a 4.3.1394 e morreu na Vila do Infante, em Sagres, a 13.11.1460. Foi grande promotor das navegações dos Portugueses com o fito de descobrir novas terras, encontrar um caminho marítimo para a Índia e dilatar a fé cristã. Para melhor dirigir as operações marítimas e as expedições de reconhecimento da costa africana, retirou-se da Corte, pouco depois de regressar da conquista de Ceuta, e estabeleceu a sua residência no promontório de Sagres. Ali fundou uma autêntica e inovadora escola náutica, onde se estudavam com entusiasmo as ciências matemáticas e cosmográficas como auxiliares da arte de navegar, em que os Portugueses começaram a afirmar-se mestres.

Herculano, Alexandre (Lisboa, 28/3/1810-Vale de Lobos, 13/9/1877) - Nome literário de Alexandre Herculano de Carvalho Araújo, historiador, poeta e romancista português nasceu em Lisboa em 1810 e faleceu em 1878. O maior vulto da letras lusitanas no século XIX e talvez em todos os tempos se exceptuarmos Camões. Notável como poeta e como romancista, Alexandre Herculano é incomparável como historiador. O seu estilo grave e severo, de uma correcção e vernaculidade modelares, assegura-lhe lugar honroso entre os grandes clássicos portugueses. A segurança do seu método, a paciência das suas pesquisas, a sagacidade das suas induções, a amplitude das suas sínteses fazem da obra de Alexandre Herculano um monumento que desafia a acção do tempo e cuja grandeza parece aumentar à medida que este decorre.

Inês de Castro (c. 1325-1355) - Figura histórica portuguesa muito divulgada pela literatura e pela lenda, que chega a atribuir-lhe aurélia de martírio. Filha natural do fidalgo galego Pedro Fernandes de Castro, veio para Portugal com D. Constança, noiva prometida ao infante D. Pedro, depois rei D. Pedro I. O infante apaixonou-se loucamente por Inês de Castro. Estes amores suscitaram tão forte oposição, por motivos de ordem moral, religiosa e política, que levaram D. Afonso IV a mandar executar Inês por três fidalgos (1355). Em 1357, após a subida ao trono de D. Pedro I, Inês recebe o título de Rainha Póstuma, após a celebração do casamento entre os dois amantes.

Joana, D. (1462-1530) - Filha herdeira de Henrique IV de Castela e de D. Joana, a formosa Rainha morena irmã de Afonso V de Portugal. Nasceu em 1462 e chamavam-lhe, depreciativamente em Castela, A Beltrajena os muitos que a julgavam filha de Beltran de la Cueva, nobre, favorito de Henrique IV e amante da Rainha, e desejavam ver subir ao Trono a infanta Isabel, irmã do rei. Morreu este e foi proclamada A Beltraneja que os Castelhanos não aceitaram. D. Afonso V desejoso de impor os direitos da sobrinha, casou com ela e invadiu o reino vizinho. A campanha foi infeliz e D. Afonso V desistiu. D. Joana morreu em Lisboa (1530).

João I, D. (Lisboa, 11/4/1357-14/8/1433) - Décimo Rei de Portugal e Mestre de Avis. Nasceu em 1365 e reinou de 1385 a 1433, ano em que morreu. Fundador da Dinastia de Avis ou Joanina, foi cognominado de O de Boa Memória. Era filho bastardo de D. Pedro I. Passou a mocidade na Corte de D. Fernando. Amava os desportos sobretudo a montaria, sobre a qual deixou um tratado. Foi aclamado rei a 6 Abril de 1385 nas Cortes de Coimbra, escolhendo para condestável D. Nuno Álvares Pereira. Do seu casamento com D. Filipa de Lencastre nasceram os Altos Infantes ou Iacute;nclita Geração. Factos principais do seu reinado: Combate de Trancoso; Batalha de Aljubarrota; Tratado de Windsor (9.5.1385); Tréguas com Castela (1387 e 1393); Tomada de Badajoz (1396); Fundação da Casa de Bragança (8.11.1401); Tratado de Paz com a Espanha (31.10.1411);Início dos Descobrimentos (1412); Conquista de Ceuta; Descoberta da Madeira e Porto Santo (1418-1419); Expedição às Canárias (1424-1425); Descoberta dos Açores (1427).

João I de Castela, D. - Nasceu em 1358 e sucedeu a Henrique II. Combateu as pretensões de D. Fernando de Portugal à coroa de Castela invadindo Portugal. Depois da morte do monarca Português e para se apossar da Coroa cercou Lisboa, mas foi obrigado a retirar pela população, chefiada pelo Mestre de Avis. Em 1385 voltou a penetrar em Portugal, sendo as suas tropas desbaratadas em Aljubarrota.

João II, D. (Lisboa, 4/5/1455-Alvor, 29/10/1495) - Rei de Portugal, cognominado O Príncipe Perfeito. Nasceu em Lisboa a 3.3.1455 e morreu em Alvor a 25.10.1495. Filho de D. Afonso V e de sua mulher D. Isabel. Impulsionou decisivamente os Descobrimentos e o seu reinado caracterizou-se por notável coragem, prudência, arguto tino governativo e rigoroso espírito de justiça. Factos principais do reinado: Cortes de Évora (12.11.1481); Descobrimento do Congo, por Diogo Cão (1482); segunda viagem de Diogo Cão (1485); missões de Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã ao Preste João e à Índia (7.5.1487); partida de Bartolomeu Dias (1487); passagem do cabo das Tormentas (1488); casamento do príncipe D. Afonso com a infanta Isabel de Espanha (1490); morte de D. Afonso em Santarém (12.7.1491); chegada de Colombo às Antilhas (12.10.1492); bula de Alexandre VI sobre partilhas de zonas de influência entre Portugal e Espanha (1493); Tratado de Tordesilhas (7.6.1494).

Leonor de Aragão, D. - Rainha de Portugal. Filha de Fernando I de Aragão e de D. Leonor de Albuquerque, casou em 1428 com o Infante D. Duarte, que viria a reinar entre 1433 e 1438. Neste ano assumiu a regência e administração do Reino para dois anos depois, ser despojada dessas prerrogativas a favor de seu cunhado, o infante D. Pedro.

Leonor Teles, D. - Filha de Martin Afonso Telo de Menesses e de D. Aldonça de Vasconcelos , era irmã de Maria Teles, dama da infanta D. Beatriz. Casada com o fidalgo João Lourenço da Cunha, visitava com frequência a corte de D. Fernando, onde residia a irmã. Foi numa destas visitas que D. Fernando dela se enamorou apaixonadamente, ao ponto de conseguir anular-lhe o casamento com João Lourenço e casar com ela no Mosteiro de Leça em 1372.

Lopes, Fernão - Considerado unanimemente como o nosso maior cronista, ou como o nosso primeiro historiador, por se distanciar muito no método utilizado de toda a historiografia que o antecedeu Fernão Lopes é mesmo tido por alguns como a maior personalidade da literatura medieval portuguesa. Pouco se sabe sobre a sua vida, tudo leva a crer, no entanto, que tenha nascido entre 1380 e 1390, provavelmente em 1384 ou 1385. Pertencendo à geração dos filhos de D. João I, conheceu três reinados diferentes, os de D. João I, D. Duarte e D. Afonso. Notário de profissão, é nomeado em 1418 guardador das escrituras do Tombo, isto é, chefe do arquivo público do Reino, cargo que acumulava como de escrivão dos livros de D. João I. A novidade das crónicas de Fernão Lopes não se prende apenas com a compreensão da dinâmica da sociedade, mas também com o método que utiliza para a determinação da verdade histórica. De facto, Fernão Lopes revela uma atitude crítica em relação à história que se consubstancia no recurso constante à documentação e no confronto de várias versões de um mesmo acontecimento, optando pela que é mais bem documentada. É visível ainda nas suas obras uma preocupação pela explicação das causas dos acontecimentos, sejam elas de ordem económica, política ou psicológica. O seu mérito como historiador não é inferior à qualidade artística das suas narrativas. O seu poder de comunicação revela ainda a presença da sua forte personalidade.

Martins de Albergaria, Vasco - Guerreiro português, companheiro do infante D. Henrique; foi ferido em Ceuta; morreu em 1433.

Moniz, Martim - Dada a real importância da tomada das grandes praças mouras da linha do Tejo, sobretudo Santarém e Lisboa, para a prossecução da reconquista portuguesa, não admira que o acontecimento tenha dado lugar à produção de uma literatura apologética e comemorativa, produzida em meios clericais , onde se enaltece a participação do rei e, directa ou indirectamente, a do clero. Ainda que tardiamente, também a nobreza, através dos livros de linhagens, deseja perpetuar por escrito a memória da sua participação na empresa. Os Vasconcelos tinham em Martim Moniz o antigo representante da família na conquista de Lisboa, «o que matarom ou mouros em Lixboa aa porta de Martim Moniz», o que sacrificara a vida para o êxito da vitória cristã, aquele aquém se devia tributo, gratidão e recompensa, a reconhecer e materializar nos seus descendentes vivos. O feito de Lisboa e o enquadramento genealógico em que surge inserido o seu autor, um grupo de nobres bem relacionados com a coroa, projectam assim os descendentes de Martim Moniz, os Vasconcelos da primeira metade de trezentos.

Montemor-o-Novo, Marquês de - O único portador deste título foi D. João, segundo filho dos segundos duques de Bragança e irmão do 3.º duque, D. Fernando, que D. João II fez decapitar por conspirar contra a coroa portuguesa. D. João acompanhou o antecessor daquele monarca, D. Afonso V, em expedições a Marrocos e dele recebeu o título referido. Quando D. João II subiu ao trono, logo caiu em desagrado deste por atitudes de irreverência e foi desterrado para Castelo Branco, daí entrando em correspondência com os reis de Castela em que fazia acusações graves contra o seu soberano, inclusive a de que este mandara por veneno seu pai, D. Afonso V. D. João II teve conhecimento destes agravos e, decerto, não teria poupado o marquês de Montemor depois da execução de seu irmão, o duque de Bragança. D. João, porém, refugiou-se em Espanha e foi condenado à morte à revelia em 1483, sendo-lhe confiscados os bens. Viveu nas Cortes dos Reis Católicos e aí faleceu mais tarde, vendo malograrem-se todos os esforços que empenhou para combater D. João II. Correu o boato de que fora envenenado por ordem deste. Não deixou descendência e o título de marquês de Montemor-o-Novo nunca mais foi atribuído.

Pedro, D. (1320-1367) - Oitavo rei de Portugal, cognominado O Justiceiro ou Cruel, era filho de D. Afonso IV e de D. Beatriz. Nasceu em Coimbra a 8.4.1320. Depois da anulação do casamento que, aos oito anos, contraíra com D. Branca de Castela, casou em 6.2.1336 com D. Constança. Tomara esta por sua aia Inês de Castro, por quem D. Pedro se apaixonou. Reinou de 1357 a 1367. Quatro anos depois de subir ao Trono, mandou justiçar os três fidalgos que tinham executado Inês de Castro. Instituiu o Beneplácito Régio (23.9.1361) e tomou importantes disposições para debelar a peste negra e desenvolver a economia do País.

Pedro, Infante D. (Lisboa, 9/1/1392-Alfarrobeira, 20/5/1449) - Filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Com o pai e os irmãos tomou parte na conquista de Ceuta (1415), onde foi armado cavaleiro e, depois, feito Duque de Coimbra. Benigno, prudente e sábio, visitou o mundo culto do seu tempo. Das suas viagens conserva-se um minucioso relato escrito por um dos seus doze companheiros, Gomes de Santo Estevão (Livro das sete partidas do Infante D. Pedro de Portugal). Por morte do irmão D. Duarte, fez aclamar o novo rei (D. Afonso V) com apenas seis anos de idade. Por eleição das Cortes de 1440, assumiu a regência até 1446. Morreu no recontro de Alfarrobeira.

Pereira, Nuno Álvares (1360-1431) - Filho da Álvaro Gonçalves Pereira, prior da Ordem do Hospital, que, além dele, segundo a Crónica do Condestabre, teria tido mais trinta e um filhos de várias mulheres. Nasceu de Iria Gonçalves de Carvalhal e foi legitimado por D. Pedro I um mês depois. Educado com o pai até aos 13 anos, foi depois criado na corte, como escudeiro de Leonor Teles e instruído no oficio das armas por seu tio materno Martim Gonçalves do Carvalhal. Pouco depois de D. Fernando lhe conceder em préstimo a terra de Pena e de o ter feito, portanto, vassalo do rei, casou com D. Leonor de Alvim, passando a morar na Quinta da Pedraça, em Cabeceiras de Basto. Em 1381 iniciada a guerra com Castela, colaborou na defesa do Alentejo com o irmão Pedro. Estava em Santarém no momento do assassínio do conde Andeiro, e logo aderiu ao Mestre de Avis, em posição contraria à de seu irmão Pedro. Durante os primeiros meses de 1384 chefiou constantes escaramuças em torno de Lisboa, mas por altura da invasão castelhana permaneceu no Alentejo como fronteiro-mor. Obteve a sua primeira grande vitória na Batalha de Atoleiros. Tomou parte das cortes de Coimbra onde foi nomeado condestável e mordomo-mor, e recebeu importantes doações. A sua a actuação na Batalha de Aljubarrota foi recompensada com generosas doações pelo rei e com o título de conde de Ourém.

Peres de Trava, Fernão - Filho do poderoso conde Pedro Froilaz de Trava, ou de Trastâmara, figura maior da política galega durante o reinado de D. Urraca, como o aio e tutor do herdeiro do trono, Afonso Raimundes (futuro Afonso VII), e como o mais importante membro da nobreza galega na época em que o arcebispo Diogo Gelmírez de Compostela pretendia transformar a sua sé num grande potentado religioso e senhorial. Fixou-se em Portugal em 1121 obtendo o apoio de Gelmírez. Fernão Peres deve ter-se encarregado da vigilância militar da fronteira muçulmana e viveu maritalmente com D. Tereza, tendo dela tido pelo menos uma filha. Expulsos os Travas depois da Batalha de São Mamede, Fernão Peres retirou-se com D.Tereza para a Galiza. Reconciliado com Afonso Henriques, ainda voltou a Portugal em 1131, pouco tempo depois de ela morrer, para fazer doações pias em sufrágio da sua alma.

Pessanha, Manuel - Genovês de origem, Manuel Pessanha veio instalar-se em Portugal no reinado de D. Dinis, que com ele firmou um convénio em 1317. Por força deste instrumento legal, Pessanha ficou empossado no cargo de almirante das galés reais, com transição a descendestes com via varonil (excluindo os eclesiásticos) e com uma renda de três mil dobras anuais pagas às terças. O Genovês comprometia-se a servir no mar, com lealdade, o rei de Portugal, desde que fossem postas ao seu dispor pelo menos três galés.

Rui de Pina - Nasceu na cidade da Guarda e é de origem nobre. Foi encarregado por D. João II de continuar a escrever a Crónica Geral do Reino sendo por isso considerado o continuador da obra de Fernão Lopes e Gomes Eanes Zurara. D. Manuel nomeou-o guarda-mor da Torre do Tombo e cronista-mor. Legou-nos as crónicas de D. Duarte, D. Afonso V e D. João II, para além da refundição da Crónica de Portugal de 1419, atribuída a Fernão Lopes, no que se refere aos reinados de D. Sancho I a D. Afonso IV.

Sancho I, D. (1154-1212) - Segundo rei de Portugal. Filho de D. Afonso Henriques e de D. Mafalda, nasceu em Coimbra em 1154. Aos treze anos de idade chefiou, por ordem do pai, uma expedição contra Ciudad Rodrigo, mas o seu exército foi desbaratado e teve de fugir. Casou em 1174 com D. Dulce de Aragão. Em 1184 defendeu Santarém do sítio que lhe viera pôr o soberano dos Almóadas, lúçufe. Pouco depois deste acontecimento, morria D. Afonso Henriques e, com 31 anos, subiu D Sancho I ao Trono. «E tanto em seus princípios se deu à reedificação de lugares, cidades e castelos, fundando muitos de novo, tanto favoreceu a agricultura... que foi chamado por excelência O Povoador.». Teve diversos conflitos com a Santa Sé, por causa do pagamento do censo, e com o clero. Todas estas discórdias terminaram em 1210, poucos meses antes do seu falecimento. As empresas bélicas em que se empenhou permitiram-lhe apoderar-se de Alvor, Silves, Albufeira, Lagos, Portimão, Monchique, Messines, etc., e assim ampliar o seu título para Rei de Portugal e dos Algarves.

Sancho II, D. (c. 1209-1248) - Quarto Rei de Portugal, cognominado O Capelo. Filho de D. Afonso II e de D. Urraca, nasceu em Coimbra em 1207. Muito jovem ainda subiu ao Trono, numa atmosfera de discórdias. Dos seus feitos bélicos sobressai o assalto a Elvas (1126), em que pessoalmente se distingue. Esta cidade, porém, cai novamente no poder dos Mouros e só é reconquistada definitivamente em 1229, juntamente com Juromenha; nos anos seguintes conquista Moura, Serpa, Mértola e outras terras, ajudado pelos guerreiros da Ordem de Sant'Iago. Faltou-lhe energia suficiente para reprimir as desordens que havia no Reino desde a sua menoridade. Deposto em 1244 ou 1245 por Inocêncio IV, sucedeu-lhe o Infante D. Afonso, que só usou o título de rei depois da morte de D. Sancho no exílio (Toledo, 4 de Janeiro de 1248).

Tereza, D. - Filha de Afonso VI de Leão e de D. Ximena Nunes de Gusmão. Casada (1092 ou 1093) com o conde Henrique de Borgonha, recebeu como dote o Condado Portucalense. Quando o conde D. Henrique morreu (1114?) deixou o condado à sua guarda e de seu filho, ainda criança, infante D. Afonso Henriques. É D. Tereza quem passa a governar o condado, à volta do qual continua uma vida política agitada por intrigas, combinações constantemente alteradas e ambições desmedida. Ora a adversária da sua irmã, D. Urraca, ora sua aliada, pretende D. Tereza alargar os seus domínios e firmar a sua independência. Cedo começaram os súbditos a trata-la de rainha. infeliz nas lutas que travou com D. Urraca, soube contudo aproveitar as discórdias nos domínios da irmã para novas alianças. Embora pouco esclarecido o caso das relações de D. Tereza com o fidalgo galego Fernão Peres de Trava, é certo que este gozava de grande influência na Corte e dispunha de enorme valimento junto da rainha, como o prova o facto de confirmar, com ela, muitos diplomas. Do desagrado dos nobres e fidalgos perante essas relações surgiram dois partidos, o da rainha e o do infante, que na tarde de 24.6.1128 se defrontaram no campo de S. Mamede, junto ao Castelo de Guimarães. D. Tereza foi expulsa e morreu, possivelmente, na Galiza, a 1.11.1130.

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