quarta-feira, 20 de maio de 2009

O poder da sugestão

A hipnose pode chegar a quebrar as fronteiras entre normal e paranormal


Em 1784, o marquês de Puységur descobriu que as pessoas «magnetizadas» pareciam dotadas de clarividência e capacidades psíquicas, reagiam a ordens não-verbais e revelavam mais inteligência do que no seu estado normal. Em 1808, o médico francês J. H. Petetin mostrou o poder do «magnetismo». Uma mulher «magnetizada» distinguiu os sabores de vários alimentos através do tacto e informou os amigos de Petetiu do conteúdo dos seus bolsos ou carteiras.

Puységur e Petetin eram seguidores do austríaco Franz (ou Friedrich) Mesmer, segundo o qual os seres humanos podiam ser «magneticamente» influenciados. Mesmer tinha uma sala de curas com música suave e iluminação fraca onde os doentes se sentavam à volta de tinas cheias de água, pedras e limalhas de ferro. Hastes de ferro saíam do topo das tinas, e os doentes colocavam essas hastes nas partes afectadas do corpo. Mesmer utilizava o seu próprio «magnetismo animal» para estimular as curas através da sua presença ou do seu toque com uma haste de ferro, e os pacientes entravam em estados de histeria que pareciam melhorar o seu estado de saúde.

Pesquisa na Grã-Bretanha: Em 1792, o Dr. J. Bell escreveu acerca de um indivíduo que conseguia ler às escuras e afirmava que podia obrigar «sonâmbulos» a obedecerem à sua vontade. Numa demonstração de «magnetismo» em Londres, em 1837, pessoas pobres e doentes foram picadas, beliscadas e queimadas para provar a sua falta de sensibilidade. O Prof. John Elliotson, do University College Hospital, de Londres, publicou um relatório sobre cirurgias em doentes «magnetizados», que quase não sentiram dores. Em 1843, o escocês James Braid identificou um estado psicológico que podia ser induzido fixando uma luz colocada mesmo acima do nível dos olhos. Os sujeitos entravam num estado sugestionável, que Braid considerava uma espécie de sono nervoso e inventou o termo «hipnose», de Hypnos, o deus grego do sono.

A introdução de anestésicos na cirurgia, cerca de 1840, coincidiu com o advento do espiritismo moderno e sobrepôs-se aos aspectos sobrenatural e médico da hipnose. A técnica só ressurgiria quando psicanalistas como Jean-Martin Charcot e Sigmund Freud usaram terapia hipnótica com os seus doentes nos finais do século XIX.

A hipnose é muito mais do que simples trapaça. Embora implique um relaxamento profundo, não é uma forma de sono – mais exactamente, é um estado semelhante ao transe dos médiuns. A maioria das pessoas é sugestionável em maior ou menor grau. Tem sido objecto de debate o facto de os sujeitos poderem ou não ser obrigados a fazer coisas contra a sua vontade consciente e de a hipnose dever ou não ser utilizada como diversão em que os voluntários são levados a realizar acções que, de outra forma, não fariam prontamente.

Hipnose médica: A hipnose ainda é utilizada pela medicina convencional para aliviar dores e stress e em situações em que o acesso a zonas da consciência e da memória está fora do alcance do terapeuta. A sugestão e estímulo hipnóticos são usados como apoio da força de vontade do sujeito – por exemplo, em terapias para vencer fobias ou deixar de fumar.

Nos EUA e em Israel, a regressão hipnótica a acontecimentos passados é usada em investigação criminal, pois pode desencadear a lembrança de um lugar ou da matrícula de um automóvel. Parece não haver notícia de qualquer crime grave cometido em resultado de sugestão pós-hipnótica.

O uso da hipnose em investigação paranormal está mais sujeito a críticas. No tratamento ortodoxo de problemas da memória, há um controlo adequado sobre o que é recordado, mas o uso da regressão hipnótica por amadores sem experiência médica tem levantado problemas. Talvez o uso mais discutível da hipnose seja a «recuperação» da lembrança de raptos por extraterrestres. Muitos indivíduos terão aparentemente recordado experiências desagradáveis com ovnis, estando em poder de seres estranhos. Contudo, quase não há provas físicas que confirmem a veracidade das «lembranças», e existe a preocupação de que um hipnotizador possa levar o sujeito a «recordar» acontecimentos que não ocorreram.

A hipnose tem muitas aplicações de carácter geral, mas é preferível que seja praticada por profissionais e utilizada para reforçar as intenções e a memória do indivíduo, e não para as suplantar.


A experiência de Wiertz

O pintor belga Joseph Wiertz sentia-se fascinado pela morte. Em 1865, concebeu uma experiência para descobrir o que acontece à mente no momento da morte. Wiertz arranjou maneira de se esconder com dois amigos e um hipnotizador por baixo do patíbulo da guilhotina durante a execução de um assassino. Foi então hipnotizado para que se identificasse com a mente do condenado.

Enquanto ouvia os preparativos para a execução, Wiertz começou a sentir uma grande aflição e pediu para ser libertado do seu transe, mas era tarde demais – a lamina caiu. O hipnotizador insistiu para que Wiertz continuasse. Contorcendo-se, disse que a cabeça decapitada continuava a pensar e a sentir, mas sem poder compreender o que acontecera.

Wiertz continuou agitado, mas foi-se acalmando gradualmente e continuou a relatar as impressões do morto. Agora, dizia, a Terra parecia afastar-se. Sentia-se separado dela e uma paz profunda começava a tomar posse do seu ser. Ansiava pelo esquecimento total – «Que belo sono vou dormir! Que alegria!», foram os seus últimos pensamentos, enquanto o médico da prisão se aproximava da cabeça e verificava que já não havia quaisquer sinais de vida.

Poderá o cérebro continuar a funcionar depois da decapitação? Testemunhas da execução de Maria Stuart, em Fevereiro de 1587, juraram que os lábios dela continuram a mover-se em oração ainda durante 15 minutos. Esta lenda terá sido inspirada pela elevada tensão emocional do momento, pois na opinião médica moderna, embora possa persistir uma certa consciência durante alguns segundos, ela não poderia manter-se por as células do cérebro terem sido privadas de oxigénio. Parece que a experiência de Wiertz foi uma fantasia notável criada pela sua própria mente.

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